Sex Education (Temporada 4) – O fim ou o princípio de um novo começo?

A quarta e última temporada de Sex Education, a série britânica criada por Laurie Nunn em 2019 para a plataforma de streaming Netflix, estreou no passado dia 21 de setembro e é já a série mais assistida no Reino Unido. Entre oito novos episódios somos remetidos, uma vez mais, para o início de um ano letivo cheio de novidades, aventuras e caras novas. É verdade, ao jovem elenco de Sex Education – Otis (Asa Butterfield), Eric (Ncuti Gatwa), Maeve (Emma Mackey), Aimee (Aimee Lou Wood), Ruby (Mimi Keene) e Adam (Connor Swindells) – somam-se novas e intensas personagens num renovado contexto: a futurista e utópica escola de Cavendish.

Cavendish é possivelmente a escola porque todos sonhamos. Oferecendo aos seus alunos meditação diária, discotecas silenciosas, banhos de som e ioga para a saúde mental, este colégio dá lugar a uma nova estética, mais inclusiva, sustentável, artística e livre à série, deixando a antiga secundária de Moordale sucumbir aos destroços de uma memória que fica para trás.

Imaginem uma escola cujo lema é: “Porquê ser mau quando se pode ser verde?”, onde o positivismo toma o espaço de mexericos e da insegurança que tantas vezes leva à violência e indiferença. Uma escola que não só é gerida pelos seus estudantes como entre as suas várias ofertas extra-curriculares conta não só um mas vários gabinetes de terapia sexual que entram em disputa aquando a chegada dos alunos de Moordale e o seu terapeuta sexual, Otis, ao novo colégio. Utópico no mínimo, não?

Ilusórias são também as novas personagens desta temporada que mostram certo desfazamento com o realismo com que nos habituamos a ver em Sex Education. Salientando a representatividade e inclusão de identidades que são normalmente deixadas à margem do corpus social, esta temporada carece de um aprofundamento nas histórias que traz, vendo o acelerar da história com finais mais ou menos clichê à medida que nos aproximamos do último episódio.

Nesta temporada são representadas identidades várias e causas porque devemos lutar e estar atentos. Entre a inclusão de pessoas com surdez com Aisha (Alexandra James), de mobilidade reduzida com Isaac (George Robinso), da arromanticidade com O (Thaddea Graham), de pessoas trans com Abbi e Roman, não binárias com Cal (Dua Sale), bissexuais com Adam, são várias e pertinentes as mensagens que esta temporada nos oferece sem com isso conseguir aprofundar alguma delas.

Entre exemplos, o reencontro com Cal, personagem não binária que principia na terceira temporada e agora mostra as dificuldades inerentes a um processo de transição de género demasiado longo; com Jackson (Kedar Williams-Stirling) a bipolaridade entre a descoberta do prazer anal numa relação heterossexual e a preocupação paranóica de um cancro testicular; com Abbi e Roman, um casal de pessoas trans, em que apenas servem para mostrar a Cal a visão de alguém que está mais à frente na transição e informar os espectadores sobre a duração das listas de espera e os custos exagerados da cirurgia privada; com Vivienne (Chinenye Ezeudu), a história de violência de um namoro tóxico que tal como inicia, precocemente, assim acaba; com Eric, as voltas e reviravoltas da sua luta e integração com a Igreja; ou ainda, entre o casal maravilha, Maeve e Otis, os obstáculos de uma relação à distância com a mudança de Maeve para a Universidade de Wallace, nos EUA, sendo continuamente rebuscada e deixada, por fim, em aberto.

Portanto, toda a temporada é feita entre flashbacks e aproximações de várias histórias com um potencial tremendo sem com isso sendo devidamente exploradas mas, no entanto, deixadas a um final mais ou menos previsível ou deixado em suspenso.

Ainda assim, com todas as suas lacunas, esta temporada poderá ter sido uma das mais queridas de Sex Education. Abordando temas sempre atuais como o género e a sexualidade; a religião e a espiritualidade; a maternidade e a saúde mental; o luto e a perda; o assédio sexual e o uso de drogas; o privilégio de classes entre outras múltiplas referências que apanhamos num piscar de olhos, esta última temporada mostra-nos como o fim não é necessariamente trágico ou triste mas uma necessidade em si, parte da vida que nos conduz a outros começos não imaginados.

Sex Education – Temporada 4 (Trailer)


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