“Minhas irmãs:
Mas o que pode a literatura? Ou antes: o que podem as palavras? (…)
Que tempo? O nosso tempo. E que arma, que arma utilizamos ou desprezamos nós? Em que refúgio nos abrigamos ou que luta é a nossa enquanto apenas no domínio das palavras?”

Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta, Maria Velho da Costa (Novas Cartas Portuguesas, 1980)

O que pode a literatura? O que podem as palavras? Neste 8 de Março, no ano em que se celebram os 50 anos do 25 de abril, evocamos Novas Cartas Portuguesas, obra que celebra cinquenta e dois anos e que demonstra o poder e ousadia das palavras na luta feminista e antifascista no país.

Um livro escrito por três mulheres que, por ousarem denunciar o silêncio, a exploração e violência que a identidade feminina era sujeita neste país, foram alvo de perseguição e censura política. Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa mostravam ser rostos da clandestinidade e emancipação feminina na época. Hoje, cinco décadas após a queda de um regime fascista com quase a mesma duração, celebramos a ousadia destas mulheres sem esquecer todas aquelas que permanecem emersas numa clandestinidade e precariedade que a norma obriga.

Falo de todas as identidades, corpos, sexualidades e experiências de género que confluindo na ambiguidade, num hibridismo de género, acabam despojadas do seu lugar de fala. De todas as existências que faltam ser recuperadas de um sistema de desigualdades sociais sistémicas que negam o seu acesso ao poder, ao saber e a recursos materiais.

Falo das mulheres clandestinas, migrantes, pobres, racializadas, com deficiência, das mulheres trans e lésbicas, mas também de todas as filhas, mães e avós que veem as suas vidas serem intersectadas pelo machismo, pelo sexismo, pelo racismo, pela homo-bi-transfobia.

Assim, resgatamos o poder da palavra como palco do empoderamento e alteridade feminina. São oito livros que escolhemos para assinalar este dia mas, também, este mês que é destinado a assinalar a história das Mulheres.

Boas leituras!

Mulheres do Meu País – Séc. XXI

Cidália Vargas Pecegueiro

Mulheres do Meu País – Século XXI, de Cidália Vargas Pecegueiro, com fotografias de M. Margarida Pereira-Müller. Inspirado na obra homónima de Maria Lamas, publicada entre 1948 e 1950, este livro, Mulheres do Meu País – Século XXI”, mostra onde estamos hoje e onde chegámos 75 anos depois.

As 31 retratadas representam a diversidade de mulheres portuguesas, que no século XXI vencem preconceitos de género, orientação sexual, etnicidade, diversidade funcional e/ou ultrapassam tetos de vidro nas mais variadas atividades, algumas delas desempenhadas, maioritariamente, por homens e, por isso, ditas tipicamente masculinas.

A estes retratos juntam-se exemplos de pioneiras em áreas onde estas mulheres se enquadram profissionalmente, assim como textos de análise da representação feminina nos respetivos setores de atividade, de autoria de diversas docentes e investigadoras.

ISBN:  9798376413241 Editor: Edição do Autor Páginas: 322

Tisanas

Ana Hatherly

Estas Tisanas, pequenos poemas em prosa, foram um trabalho constante da vida literária de Ana Hatherly, iniciado em 1969. Durante a vida da autora, estes poemas conheceram várias publicações, sendo um grande número de novos poemas acrescentados e redigidos ao longo dos anos. A recolha que agora se apresenta tem por base a última revista pela autora, com um posfácio de Ana Marques Gastão.

As Tisanas são uma meditação poética sobre a escrita como pintura e filtro da vida. No seu conjunto formam uma espécie de cidade-estado construída pela escrita criadora…

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ISBN: 9789723722987 Editor: Assírio&Alvim Páginas: 224

Maus Hábitos

Alana S. Portero

Fenómeno literário internacional, eis um romance devastador, mas cheio de esperança, sobre uma menina que cresce num corpo que não reconhece como seu, o que a leva numa travessia em busca do seu lugar no mundo.

Um desafio a corações empedernidos: assim é Maus hábitos, a história lírica e feroz de uma menina presa num corpo de rapaz, desbravando o caminho rumo à sua identidade, à revelia de tudo e de si mesma.

«Eu, menina esperta, maricas encoberta, gaga, gorducha, com uma pala a cobrir-me o olho esquerdo e uns óculos maiores do que o desejável, era o oposto da imagem de uma pequena endiabrada […]. Quando os adultos olhavam para mim, achavam-me engraçada ou sentiam um pouco de pena, nada grave […]. Dava-me conta disso e aprendi a usá-lo a meu favor. Conseguia pensar em termos cruéis. A consciência de que necessitamos de um armário para nos escondermos torna-nos espertíssimos.»

Este romance leva-nos numa travessia pelo território mais íntimo da natureza humana — uma travessia da qual não saímos incólumes. Maus hábitos é a história do encontro de uma pessoa consigo mesma, alguém que nasce no corpo errado, no lugar mais triste e sem futuro, num tempo desolado. Pela mão da protagonista, vamos até à sua infância em San Blas — um bairro operário suburbano e dizimado pela heroína nos anos oitenta —, passamos pela adolescência selvagem nas noites clandestinas de Madrid e chegamos ao raiar do milénio, quando a promessa de liberdade é soterrada por um episódio de insuportável violência. Contudo, das cicatrizes mais fundas há de emergir não a redenção, mas a esperança.

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ISBN: 9789897872365  Editor:  Alfaguara Páginas: 248

O Dever de Deslumbrar

Filipa Correia

Intimidando pela verve de aríete e pela beleza, Natália Correia simbolizou, como poucos, as inquietações do século XX português. Precoce e radical no pensamento feminino, vítima de efabulações e de mitos, incompreendida e amada, lançou um olhar oracular sobre o seu tempo. Em tertúlias, que eram verdadeiras olimpíadas da confraternização lisboeta, o seu traço aglutinador envolvia, juntamente com o fumo dos cigarros, intelectuais e admiradores, que se irmanavam com párias e malditos em ideias e poemas de vanguarda.

Mulher deslumbrante e carismática, equiparada às maiores pensadoras europeias e às estrelas de Hollywood, atacou o Regime onde mais lhe doía – na moral caduca -, elegeu o erotismo como arma política e tornou-se a autora mais censurada da ditadura. Já no bar que fundou em Lisboa, fez e desfez governos à batuta da sua boquilha.

Nesta biografia, da autoria de uma das vozes mais seguras da nova literatura portuguesa, convivem a libertária e a conservadora, avessa a expor a sua atribulada vida íntima, a mulher que desprezava a política partidária e que nela viveu, inclusive como deputada; o espírito frágil e o temperamento intempestivo; o polémico exercício de funções diretivas em órgãos de imprensa e a defesa intransigente das causas maiores; e, em todas as páginas, as contradições e coerências de uma pensadora capaz de criar para si própria uma narrativa que não a torturasse pelas escolhas que fez.

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ISBN: 9789896661762 Editor: Contraponto Editores Páginas: 696

Realizadoras Portuguesas – Cinema no feminino na Era Contemporânea

Mariana Liz & Hilary Owen

A história do cinema das realizadoras portuguesas apenas começa, de forma sistemática, depois de 1974. Este livro, que junta textos de investigadoras sediadas no Reino Unido, Estados Unidos da América e Portugal, discute filmes de 14 realizadoras, considerando o cinema de ficção e documental produzido nos últimos 50 anos em Portugal. Os textos aqui reunidos mapeiam as visões cinematográficas que estas autoras trouxeram para o cinema português na sequência da Revolução do 25 de Abril  e da descolonização em África, e a forma como têm contribuído para a sua internacionalização. Neste “cinema no feminino” assistimos tanto a uma nova conceptualização do cinema nacional através, por exemplo, do cinema etnográfico realizado no final dos anos 1970, como à exploração de intervenções marcadamente de género em torno do mundo masculino das guerras coloniais.

A partir dos anos 1990, assuntos políticos feministas, como a campanha em torno da descriminalização do aborto e do novo estatuto para a comunidade LGBTQIA+, a par de diversas preocupações relacionadas com problemas globais, como as migrações e a situação de comunidades minoritárias, assumem igualmente destaque. Os textos deste livro mostram também como as realizadoras têm contribuído para a evolução da linguagem cinematográfica, desde o trabalho desenvolvido na composição de som ao género do cinema-ensaio, da relação cinematográfica com o arquivo à adaptação da palavra escrita. Com um prefácio de Lídia Jorge, o livro resulta num desafio poderoso à marginalização do cinema das realizadoras portuguesas enquanto cinema duplamente minoritário, explorando, de forma positiva, os vários círculos de ferro que estas autoras têm vindo a romper.

ISBN: 9789726717362 Editor: ICS – Imprensa de Ciências Sociais Páginas: 314

Irmã Marginal

Audre Lorde

Obra canónica dos estudos feministas, reúne —entre ensaios, discursos, cartas e entrevistas —alguns dos textos mais significativos de Audre Lorde, de 1976 a 1984. Profundamente enraizada na experiência de viver à margem de uma «norma mítica» branca, magra, masculina, jovem e heterossexual, Irmã Marginal centra-se na ressignificação da noção de diferença, não como algo a tolerar, mas a reconhecer plenamente enquanto força humana dinâmica, criativa e enriquecedora. Ao expressar esta diferença articulando ascategorias de raça, classe, idade, género e sexualidade, Lorde instiga-nos a quebrar silêncios, transformando-os em linguagem e acção. Deixa uma marca profunda no pensamento feminista e um legado hoje mais relevante que nunca, servindo-se da potência que há na raiva, do poder do erotismo e da poesia como território de resistência.

ISBN: 9789899071827 Editor: Orfeu Negro Páginas: 312

Teoria King Kong

Virginie Despentes

Teoria King Kong é um grito de guerra e uma interrogação feroz da sexualidade feminina. Virginie Despentes desafia os discursos bem-comportados sobre a violação, a prostituição e a pornografia a partir das suas próprias experiências, desconstruindo os modos de apropriação do corpo feminino que levam à subordinação social, económica e sexual.

Um manifesto iconoclasta e irreverente para um novo feminismo.

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ISBN:  9789899071155 Editor: Orfeu Negro Páginas: 160

Quando soube que era Gay

Eleanor Crewes

Ellie sempre soube que era diferente. Com uma forte veia criativa, gostava de se vestir de preto, era obcecada pela Willow, da série Buffy, a Caçadora de Vampiros, e considerava que sair com rapazes era algo muito confuso.

À medida que foi crescendo, os seus medos e a sensação de não se encaixar em lado nenhum tornaram-se cada vez maiores.

Desde a primeira comunhão até à primeira namorada, passando por uma espiral de dúvida e negação, Ellie oferece-nos um relato fresco e bem-humorado sobre uma rapariga que encontra o seu próprio caminho.

Lê um excerto aqui.

ISBN: 9789897870392 Editor: Iguana Páginas: 320

Boas leituras!


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