Judith dos Reis Ramos Teixeira, ou apenas Judith Teixeira, foi uma das vozes mais singulares da poesia pré modernista portuguesa. Natural de Viseu, nascida em finais do séc. XIX, revela desde cedo a sua paixão pela literatura e pela escrita em especial. No entanto, é apenas na segunda década de 1900 que a autora se torna publicamente popular. Uma popularidade que lhe mostraria ser fatal pelo silenciamento que a sua vida e obra viriam a ser ao longo de todo o séc. XX em Portugal.

Em fevereiro de 1923 publica o livro de poemas Decadência, obra que juntamente com o livro Sodoma divinisada, de Raul Leal e o livro Canções de António Botto, sob a acusação de serem “imorais”, viria a ser apreendida e queimada pelo Governo Civil de Lisboa.

Não obstante, Judith Teixeira resiste à censura e em junho do mesmo ano publica “Castelo de Sombras” e, a seguir, em dezembro, edita novamente “Decadência”. Em 1925, Judith Teixeira edita e dirige três exemplares da revista mensal Europa, uma das raras revistas portuguesas dirigidas por mulheres na época, no qual colaborariam escritores como Florbela Espanca e Aquilino Ribeiro. Interessada na realidade portuguesa e internacional, a poeta mostrara o seu ecletismo na revista ao oferecer secções variadas como: cinema, teatro, desporto, moda, tauromaquia, divulgação científica e artística.

Um ano mais tarde publicaria NUA, um livro “forte e desassombrado”, que desprezava os preconceitos conservadores da época.

Depois de enxovalhada e ridicularizada publicamente por Marcelo Caetano na revista pro-fascista Ordem Nova, em 1926, referindo-se ao seu livro Decadência como sendo da autoria “duma desavergonhada chamada Judit Teixeira”, começa a ser apelidada de lésbica e caricaturada em revistas da época. Ainda, nesse ano, escreve uma palestra denominada “De Mim. Conferência em que se explicam as minhas rasões Sobre a Vida, a Estética, a Moral”, um raro manifesto artístico modernista de autoria feminina no início do século XX em Portugal.

“é uma vaidade, irritante talvez, vir falar-lhes de mim, da minha vida interior, mas desde a apreensão, feita ha anos, do meu livro Decadencia, e depois das críticas violentas feitas ao Castelo de Sombras, e ainda aos meus últimos poemas Nua — essa magnolia ardente, bizarra e exótica, em que eu pús toda a sinceridade da minha consciencia de mulher e de Artista, e toda a verdade da minha sensibilidade constantemente sequiosa de Beleza, que eu sinto o desejo imperiosos, enorme, de dizer á inteligência do meu tempo, aquelas razões de mocidade emotiva que existem na minha alma e na alma de todos aqueles que, como eu, fazem da  artística a sua mais nobre razão de viver! (…)”

Excerto da conferência DE MIM, Judith Teixeira

Sete meses depois, publica “Satânia”, enfrentando tudo e todos. Em 1928, publica o “Poemeto das Sombras” na revista “Terras de Portugal” e, depois disso, totalmente esmagada pela moral vigente, esta poetisa vanguardista viu-se sentenciada de “morte artística” pela mão de José Régio, não sendo conhecida outra obra publicada por si até ao ano da sua morte em 1959.

Uma voz singular da poesia pré modernista portuguesa, pela temática erótica incomum e representação do feminino, viu ser silenciada e esquecida pela cultura literária portuguesa face aos ecos fascistas, machistas e misóginos do seu tempo. Em Portugal, a obra de Judith Teixeira mostra finalmente começar a ganhar algum reconhecimento quer ao nível da academia e investigação científica, entre os quais destaco a dissertação do especialista Martim de Gouveia e Sousa: “Judith Teixeira: originalidade poética e descaso literário na década de vinte (2001)”, assim como na recente re-edição das suas obras e atribuição de um prémio de poesia pelo município de Viseu que pretende homenagear a sua vida e obra.

Judith Teixeira: obras completas – lírica, edição de Martim de Gouveia e Sousa, é uma obra que reune os poemas de “Decadência”, na sua 6ª edição, “Castelo de Sombras”, na sua 4ª edição e “Núa”, 3ª edição, bem como um conjunto dos seus Poemas dispersos, de traduções e versões.

ISBN:  9789898801425 Editor: Edições Esgotadas Páginas: 248


Respostas de 2 a “Judith Teixeira: Obras Completas”

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