“Não hei-de morrer sem saber qual a cor da liberdade.”

Jorge de Sena (1919-1978)

50 anos passam da mais longa ditadura da Europa ocidental. Em cinco décadas conhecemos o sabor da liberdade, da igualdade, do direito à diferença sexual e da diversidade de género.

Escancarámos armários, saímos à rua, revertemos leis que nos criminalizavam e tutelavam como doentes.

Mantivemo-nos firmes e lutámos contra um conservadorismo que ainda hoje tenta oprimir as minorias. 50 anos passados a luta continua. Contra a cegueira fascista a cor da liberdade nos guiará.

Damos destaque a uma dúzia de livros que nos remetem para um período da História Contemporânea de Portugal que não devemos esquecer.

Antes do 25 de Abril: Era Proibido

António Costa Santos

UMA VIAGEM ÀS PROIBIÇÕES DO TEMPO DA OUTRA SENHORA.

Já imaginou viver num país onde:

  • tem de possuir uma licença do Estado para usar um isqueiro?
  • uma mulher, para viajar, precisa de autorização escrita do marido?
  • as enfermeiras estão proibidas de casar?
  • as saias das raparigas são medidas à entrada da escola, pois não se podem ver os joelhos?
  • não pode ler o que lhe apetece, ouvir a música que quer, ou até dormitar num banco de jardim?

Já nos esquecemos, mas, há 50 anos, feitos agora em Abril de 2024, tudo isto era proibido em Portugal. Tudo isto e muito mais, como dar um beijo na boca em público, um acto exibicionista atentatório da moral, punido com coima e cabeça rapada. E para os namorados que, num banco de jardim, não tivessem as mãozinhas onde deviam, havia as seguintes multas:

1.º – Mão na mão: 2$50
2.º – Mão naquilo: 15$00
3.º – Aquilo na mão: 30$00
4.º – Aquilo naquilo: 50$00
5.º – Aquilo atrás daquilo: 100$00
6.º – Parágrafo único – Com a língua naquilo: 150$00 de multa, preso e fotografado.

ISBN: 978-989-576-041-1 Editor: Guerra e Paz Páginas: 208

25 de Abril: No Princípio era o Verbo

Texto: Manuel Fonseca Ilustrações: Nuno Saraiva

Festa. Este livro festeja os 50 anos do dia que derrubou uma ditadura de 48 anos. O 25 de Abril, catarse e delírio, foi uma das mais impressionantes algazarras de liberdade, loucura, e inocente destrambelhamento colectivo que o modesto povo português já viveu.
A liberdade chegou como uma inundação: proliferaram partidos políticos; levantaram-se do chão incendiários educadores do povo; agitaram-se estandartes; colaram-se cartazes; pichagens pintaram paredes; ruas, largos e avenidas entupiram-se com torrentes de gente em loucas manifs.
De tudo isso este livro quer ser a mais despretensiosa – e divertida – testemunha. Primeiro, num preâmbulo mansinho, nocturno, visitamos e descrevemos, hora a hora, os incidentes e o suspense da noite de 24 de Abril, da madrugada e do dia 25 em que os militares de Abril derrubaram o Estado do estado a que isto chegara.
Depois, redescobrimos as palavras de ordem, o alucinado desatino das palavras que varreu Portugal, evocando cartazes, os gritos das manifestações, as paredes e muros pintados. Mais de duas dezenas de ilustrações de Nuno Saraiva recriam, neste 25 de Abril, no princípio era o verbo, um Portugal de cabelos desvairadamente compridos, calças boca de sino, soutiens a serem queimados, um Portugal a pôr a ávida boca na orgia de novos costumes.
O 25 de Abril foi um dia polifónico em que da voz de cada português saiu uma palavra, fosse essa palavra exaltante, ridícula, hiperbólica, tímida, ou do mais sublime humor. Dessas palavras se construiu o Portugal que hoje somos. Dessas palavras é feito este livro.

ISBN: 9789897845635 Editor: Guerra e Paz Páginas: 88

Homossexualidade e Resistência no Estado Novo

Raquel Afonso

Nesta investigação, que cruza uma recolha exaustiva de testemunhos reais a um sólido trabalho científico, aborda-se a visão da homossexualidade durante o salazarismo. Numa síntese perfeita de História e Antropologia, visitamos o Estado Novo nos seus parâmetros estatais, a partir de três eixos centrais e que fazem o seu fundo científico: a diferença de tratamento devido à classe social; o eixo do não-dito, e a visão da sexualidade a partir da referência do masculino.

Este é um estudo que pretende ligar a investigação académica à sociedade e aos movimentos cívicos. Este é um livro de memórias. Procurou-se dar voz a quem não conseguia expressar-se. Procurou-se compreender uma parte da Ditadura que tem sido muitas vezes relegada para a sombra. Aqui, procurou-se desconstruir um tempo pretérito, do qual pouco se sabe e pouco se fala em Portugal. Não porque se queira ficar «agarrado» à história, porque há futuro, mas porque é necessário conhecer o que está para trás para se poder caminhar para a frente.

ISBN: 9789895438013 Editor: Lua Elétrica Páginas: 256

Sombras Andantes – O Triângulo Cor-de-Rosa -Fronteiras

André Murraças

Numa edição Artistas Unidos/ SNOB, este não é só um “livrinho de teatro” que recupera três das peças de teatro que o dramaturgo e encenado apresentou a público durante os anos de pandemia (2020-22), este é um livro que recupera a memória e o passado LGBTQ português, a história de homens e mulheres que viveram nas sombras da repressão fascista que percorreu a Europa do séc. XX, as histórias de pessoas que mudaram de cidade, de país, que ultrapassaram fronteiras e viveram na clandestinidade.

ISBN:  9789893511039  Editor: Artistas Unidos/SNOB Páginas: 87

A Desobediente – Biografia de Maria Teresa Horta 

Patrícia Reis

A dor e o abandono chegaram cedo à vida de Teresinha, a filha mais velha de um dos mais prestigiados médicos da capital e de uma mulher livre e corajosa, descendente dos marqueses de Alorna, que nas ruas e nos melhores salões de Lisboa rivalizava em encanto com Natália Correia. A menina que haveria de ser poetisa vê a morte de perto quando ainda mal sabe andar, sobrevive às depressões da mãe, chegando mesmo a comer uma carta para a proteger. É dura e injustamente castigada e as cicatrizes hão-de ficar visíveis toda a vida, de tal modo que a infância e a adolescência de Maria Teresa Horta explicam quase todas as opções que tomou. Sobreviver ao difícil divórcio dos pais, duas figuras incomuns, com as quais estabeleceu relações impressionantes de tão complexas, foi apenas uma etapa.

Mas quanto deste sofrimento a leva à descoberta da poesia? E quanto está na origem da voz activista de uma jovem que há-de ser uma d’As Três Marias, as autoras das famosas «Novas Cartas Portuguesas», e protagonistas do último caso de perseguição a escritores em Portugal, que recebeu apoio internacional de mulheres como Simone de Beauvoir e Marguerite Duras? A insubmissa, que se envolve por acaso com o PCP e mantém intensa actividade política no pré e no pós-25 de Abril; a poetisa, a mãe, a mulher que constrói um amor desmedido por Luís de Barros; a grande escritora a quem os prémios e condecorações chegaram já tarde (ainda que, em alguns casos, a tempo de serem recusados), entre outras facetas, é a Maria Teresa Horta que Patrícia Reis, romancista e biógrafa experimentada, soube escrever e dar a conhecer, nesta biografia, com a destreza e a sensibilidade que a distinguem.

Vê mais aqui.

ISBN:  9789896663568  Editor: Contraponto Editores Páginas: 424

Júlio de Melo Fogaça: O líder de origem burguesa que desafiou Álvaro Cunhal e foi apagado da história do PCP

Adelino Cunha

A Revolução Russa de 1917 foi um dos acontecimentos mais importantes do século xx. O comunismo alterou a correlação de forças mundiais e é nesta torrente de mudança que em 1921 nasce o Partido Comunista Português, que irá atrair centenas de jovens dispostos a lutar por uma nova sociedade. Júlio Fogaça aderiu ao PCP na mesma altura que Álvaro Cunhal e durante várias décadas defenderam orientações políticas opostas.

Prisões e libertações intermitentes adiaram as consequências dessa conflitualidade mas, eventualmente, o PCP tornou-se pequeno demais para os dois. Esta é a biografia desse jovem fidalgo rural do Cadaval que se converteu ao comunismo em Lisboa e chegou ao poder depois de ter sido várias vezes preso, torturado e por duas vezes desterrado para o Tarrafal. Acabou por ser expulso do PCP, mas as circunstâncias dessa expulsão e da derradeira prisão pela PIDE ainda hoje continuam encobertas.

Terá sido denunciado à PIDE pelo seu companheiro ou pelos próprios comunistas? Porque terá sido deixado para trás na fuga colectiva de Caxias? Ser homossexual terá pesado na sua expulsão? E que papel teve Álvaro Cunhal no seu apagamento da história do PCP? Testemunhos inéditos de Domingos Abrantes, Edmundo Pedro e Carlos Britoajudam a resgatar a intensa vida de um revolucionário esquecido.

ISBN:  9789898892218 Editor: Desassossego Páginas: 320

Elas estiveram nas prisões do fascismo

União de Resistentes Antifascistas Portugueses

Uma homenagem a todas as mulheres portuguesas que, em tempos de medo, silêncio e opressão, combateram a ditadura fascista.

O livro, que pretende ser um contributo para “resgatar de um relativo esquecimento o relevante papel das mulheres no combate à Ditadura fascista”, inclui em anexo uma listagem com o nome de 1.755 mulheres presas nas cadeias do fascismo, que constam, segundo Eduardo Brissos, no Registo de Presos (PVDE/PIDE), com cerca de 30 mil registos e nos arquivos da PIDE consultados na Torre do Tombo.

Editor: Edições URAP Páginas: 323

Feminismos – Percursos e Desafios (1947-2007) 

Manuela Tavares

Manuela Tavares, investigadora integrada no Centro Interdisciplinar de Estudos do Género da Universidade de Lisboa e coordenadora do Centro de Documentação e Arquivo Feminista Elina Guimarães, autora de diversos trabalhos sobre temáticas ligadas aos Estudos sobre as Mulheres, Estudos de Género e Estudos Feministas, co-fundadora da UMAR (União de mulheres Alternativa e Resposta) – na altura União de Mulheres Antifascistas e Revolucionárias – tendo, entre outras lutas, sido militante pela luta pela despenalização do aborto em Portugal (2007). Em 2011 publica Feminismos, Percursos e Desafios (1947-2007), uma obra pioneira e imprescindível para quem procura conhecer os percursos de meio século dos feminismos em Portugal.

ISBN:  9789724742939  Editor: Texto Editores Páginas: 752

A CIDADE DEMOCRÁTICA

Ana Drago

Nas semanas que se seguiram ao 25 de Abril de 1974, milhares de casas foram ocupadas por moradores pobres das grandes cidades. O problema habitacional deixado pelo Estado Novo era visível nos extensos bairros de barracas que rodeavam as principais cidades submetidas a um processo de acelerada metropolização. Foi assim que, em torno das reivindicações de direito à habitação e à participação política, emergiu um amplo movimento social urbano que disputou durante o PREC o modelo de democracia a construir em Portugal, que se esvaiu com a sua despolitização nos anos seguintes.

Este livro analisa o período revolucionário tomando a questão urbana como lente para ler a afirmação da democracia portuguesa. O que significou construir um regime democrático na cidade? Para responder a esta pergunta, a autora foi ao encontro dos actores, das políticas e das instituições — nos debates da Assembleia Constituinte, nos programas habitacionais lançados no pós‑25 de Abril, nas propostas dos partidos políticos sobre participação e habitação, nas leituras de arquitectos e urbanistas sobre planeamento urbano e metropolização. E também nas respostas do novo poder local democrático à crise habitacional nas periferias dos anos 70 e 80, preso nas contradições entre o direito à habitação, a explosão da construção «clandestina» e os direitos de propriedade.

ISBN:  978‑989‑671‑827-5 Editor: Tinta da China Páginas: 329

Catarina e a Beleza de Matar Fascistas

Tiago Rodrigues

Esta família mata fascistas. É uma tradição antiga que cada membro do núcleo familiar sempre seguiu. Hoje, reúnem‑se novamente numa casa no campo, no Sul de Portugal. Uma das jovens da família, Catarina, vai matar o seu primeiro fascista, raptado de propósito para o efeito. No entanto, Catarina é incapaz de concretizar o homicídio ou recusa‑se a fazê‑lo. Estala assim o conflito, acompanhado de várias questões. O que é um fascista? Há lugar para a violência na luta por um mundo melhor? Podemos violar as regras da democracia para melhor a defender?

O espectáculo criado a partir deste texto, com encenação também de Tiago Rodrigues, foi apresentado com grande sucesso de crítica e público em várias salas portuguesas e em vários países, merecendo o Prémio de Melhor Espectáculo Estrangeiro em França e Itália.

«E como é que começou tudo? Com a opiniãozinha. Explorando o medo e o preconceito. Mentindo. Manipulando. Criando a infra‑estrutura da impunidade. Os alicerces do edifício fascista. Agora vale tudo. Porquê? Porque nós permitimos que eles continuassem a falar, a falar, a falar. Que nojo. Há anos a ouvi‑los. Cada vez mais opiniões. Cada vez mais vozes fascistas. E nós a ouvi‑los. Uma náusea. Uma impotência. Uma vontade de matar. E queres tu que eu o deixe falar? Para fazer um dos seus discursos? As palavras são poderosas, Catarina. Devias saber isso. Os discursos que ele escreveu, agora são leis. Amanhã serão artigos da Constituição. E onde é que começou? Na opiniãozinha. A maldita opiniãozinha que ninguém teve a coragem de matar à nascença.»

Vê mais aqui.

ISBN:  978‑989‑671‑826-8 Editor: Tinta da China Páginas: 329

Reconstituição Portuguesa

Viton Araújo/Diego Torgo

Inspirados na técnica de blackout poetry, um coletivo de poetas e ilustradores liderado por Viton Araújo e Diego Tórgo aplicou o infame lápis azul sobre as palavras da Constituição fascista de 1933 até que dela se erguessem, apenas, poemas e ilustrações exaltando os valores de Abril:

humanidade,

liberdade,

justiça,

igualdade.

No ano em que se celebram 48 anos sobre o 25 de Abril e em que os dias passados em democracia superam, finalmente, os dias sofridos sob o jugo do fascismo, Reconstituição assume-se como um exercício de liberdade poética que celebra um sonho e constrói um futuro: o da liberdade.

Um projeto artístico e político que desconstrói a constituição fascista de 1933, distorcendo e subvertendo as suas palavras, imprimindo-lhe a mesma censura que o Estado Novo exerceu sobre as liberdades dos cidadãos portugueses, até restar apenas a mensagem de Abril.

Participam neste livro: Filipe Homem Fonseca, Gilson Barreto (Dela Mantra), Gisela Casimiro, André Tecedeiro, DJ Huba, João Silveira, Jorgette Dumby, José Anjos, Li Alves, Lila Tiago, Lucerna do Moco, Luís Perdigão, Maria Giulia Pinheiro, Marina Ferraz, Miguel Antunes, Nilson Muniz, Nuno Piteira, Paola D’Agostino, Rita Capucho, Rita Taborda Duarte, Sérgio Coutinho.

ISBN: 9789897845635 Editor: Companhia das Letras Páginas: 88

O Longo Caminho para a Igualdade. Mulheres e Homens no Século XXI

Texto: Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada / Ilustração de Susana Carvalhinhos

Sabes que todas as Pessoas podem escolher a profissão que quiserem? Sabes que todas as escolhas são válidas? As Pessoas devem acreditar nos seus sonhos! Por isso, tivemos a ideia deste livro… Esperamos que as personagens desta história te inspirem a descobrir que tens a capacidade de escolher livremente a tua profissão.

Editado com o apoio do iGen Fórum Organizações para a Igualdade.

Recomendado pelo Plano Nacional de Leitura 2027.

ISBN: 9789722728607 Editor: INCM – Imprensa Nacional Casa da Moeda  Páginas: 64

Sinais de Fogo

Jorge de Sena

Publicada após a morte do autor, Sinais de Fogo é a obra mais conhecida de Jorge de Sena e um dos romances maiores do século XX português.
De Lisboa à Figueira da Foz, Jorge, estudante de boas famílias, relembra as histórias do seu vertiginoso Verão de 1936: seduziu a criada, frequentou bordéis, foi masturbado num eléctrico… Estes e muitos outros episódios, tratados com vivíssima emoção por Jorge de Sena, dão-nos também um retrato de Portugal nos anos 30, em pleno Estado Novo, a Guerra Civil a incendiar a vizinha Espanha. Um romance em que se revela, com audácia, a irrupção da sexualidade, o choque da homossexualidade, a surpresa da libertinagem e, sobretudo. esse momento sublime que é a descoberta íntima, visceral e transformadora da poesia.

ISBN: 978-989-576-046-6 Editor: Guerra&Paz  Páginas: 616

Persona

Eduardo Pitta

Três contos (o último praticamente uma novela) que tiveram enorme sucesso aquando da sua publicação e são agora reeditados ao mesmo tempo que é lançado o primeiro romance do autor, Cidade Proibida. Três histórias passadas em Moçambique com o mesmo protagonista, Afonso, em três fases diferentes do início ao fim da adolescência.

Histórias da vida privada que tocam a vida pública, ritmo acelerado, reactivação de experiências de leitura do património libertino, marca identitária, mnemónica moçambicana, crónica desencantada da borrasca Imperial, narrador autoritário, pathos autobiográfico e sobredeterminação da pulsão erótica, tudo concorre para fazer desta trilogia de contos a versão moderna de uma educação sentimental que é também a história de um duplo abuso.

ISBN: 9789728998660 Editor:Dom Quixote Páginas: 112

25 de Abril, sempre! Fascismo, nunca mais!

Boas Leituras!


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